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Plano de Negócios: Solução ou Armadilha?

As coisas mais importantes em relação a um Plano de Negócios acontecem antes e depois da sua realização. Por Fernando Dolabela

Por Fernando Dolabela

Estou entre aqueles que batalham, há tempos, para que o Plano de Negócios seja a ferramenta de bolso do empreendedor e do pré-empreendedor. O Plano de Negócios é algo tão importante, que deve ser utilizado como o aparelho de medir pressão do médico, o martelo do carpinteiro, o código do civil do advogado.

Quando menos se espera um pacote ou uma lei muda o futuro da empresa. Quando dobra a esquina, surge uma emergência, lá está um cliente, um investidor, um fornecedor querendo saber sobre a empresa. Ou melhor, querendo saber sobre o futuro da empresa. Ao invés do cartão de apresentação ou de belas frases de efeito, dê-lhe o Plano de Negócios.

Porque o Plano de Negócios é um instrumento que ajuda o empreendedor a apropriar-se do futuro. Não concebo uma empresa, uma idéia de empresa que não seja transmitida através de um Plano de Negócios.

Além de ser um instrumento de minimização de riscos, o Plano de Negócios é uma linguagem que desvela a empresa e a concepção que o empreendedor tem do futuro, da forma mais clara e objetiva possível.

Na área de software, onde a cultura de Plano de Negócios no Brasil é mais madura, graças ao Programa Softex-CNPq, do qual fui um dos criadores, é comum utilizar-se o conceito de Plano de Negócios até para a vida pessoal.

Há uma história que corre na área, que teria acontecido entre um casal de alunos de informática : Ele diz para a colega: você quer me namorar?

Ela responde: só depois que eu ver o seu Plano de Negócios.

Por tudo isso, parece que estamos diante da pedra filosofal, que transforma simples idéias em negócios de sucesso.

Mas, infelizmente, não é bem assim. Autores de livros, consultores e especialistas teimam em tratar o Plano de Negócios como um assunto exclusivamente técnico, que leva a conclusões racionais sobre o que, como, quando, onde fazer.

Aliás, esta é uma mania recorrente dos meus colegas administradores: tentarem descobrir o sistema que dá certo, a técnica perfeita, a ferramenta infalível. Por isto, todo dia temos um novo um best seller na prateleira de administração e uma nova moda entre os consultores: quando não é reengenharia é o estilo de administração baseado nos bichos. No dia seguinte, empresas falidas, insucessos inexplicáveis, autores de best sellers pedindo desculpas e, sedentos de lucros fúteis, propondo uma nova moda.

Fica a advertência: o Plano de Negócios não pode ser visto como um instrumento puramente técnico! Este é um grande erro.

Faço um teste com os leitores: um autor norte-americano, chamado Timmons perguntou a capitalistas de risco de seu país (que movimentaram no ano passado quase 60 bilhões de dólares) quais os principais fatores que consideram ao arriscar o seu dinheiro em uma empresa. Qual foi a resposta deles? Quem acerta? A melhor idéia? Melhor produto? Melhor tecnologia? Melhor potencial de mercado? Melhor taxa de retorno? Maior lucratividade?

Nada disso. Em primeiro lugar, eles olham a capacidade do empreendedor líder e da sua equipe. Isso mesmo: olham quem está à frente do negócio e, aí sim, investem.

O melhor dos mundos para eles é um empreendedor de primeiro nível com uma idéia sensacional. Como isto é raro, eles preferem um empreendedor do primeiro time com uma idéia de segundo nível a um empreendedor de segundo nível com uma idéia brilhante, porque ele poderá colocar tudo a perder.

As coisas mais importantes em relação a um Plano de Negócios acontecem antes e depois da sua realização. Um grande trabalho antecede a elaboração do Plano. E uma grande capacidade sucede o término: a rara habilidade de transformar um papel (o Plano de Negócios não passa de um papel) em um negócio de sucesso.

Pesquisas indicam que excelentes Planos de Negócios redundaram em fracassos retumbantes. Não é difícil entender isso. O potencial empreendedor de uma pessoa só pode ser medido através de duas relações: entre a pessoa e sua idéia (produto, serviço), e entre a idéia e o mercado. Por isto, os testes que avaliam o potencial empreendedor das pessoas não são confiáveis: eles medem a pessoa em si e não a relação que tem com o seu próprio sonho. Por favor, jamais confie em testes de avaliação do perfil empreendedor. Mas este tema será objeto de outro artigo.

Os modelos de Planos de Negócios que não avaliam tais relações (grande maioria), não consideram as duas variáveis mais importantes que afetam o potencial de sucesso do empreendedor: a adequação da idéia à sua forma de ser - seu sistema de valores, crenças, hábitos, personalidade (fatores que devem ser considerados antes da elaboração do Plano) - e a sua capacidade de implementação da empresa, ou seja, a criação a partir do que não existe, a definição a partir do indefinido, a capacidade de agregar pessoas em torno da sua visão, de buscar recursos humanos, materiais e financeiros para decolar a sua idéia, para transformar o sonho em realidade.

Fica a advertência aos pré-empreendedores: vocês estão diante de um processo humano e não exclusivamente técnico. Tenham sempre o seu Plano de Negócios no bolso do colete, ou melhor, na pasta. Como os bons médicos, utilizem intensamente a tecnologia mas lembrem que a solução não está no instrumento, mas na competência de quem o utiliza.

Deixo para o fim a advertência mais importante: o Plano de Negócios deve ser feito pelo próprio empreendedor e não por terceiros. É pura falácia o argumento de que o PN é algo complexo demais para o empreendedor fazer por conta própria.

Por quê? Porque ele faz ou terá que fazer algo muito mais complexo, que é criar e gerir a sua empresa. O problema aqui é outro. Nós que lidamos com geração de ferramentas temos que produzi-las na linguagem de quem vai usá-las: para serem boas têm que ser de fácil assimilação e uso. Se não for assim estaremos cristalizando mitos, entre eles o de que o micro-empreendedor precisa de um consultor para tudo. Não. Ele precisa de ferramentas adequadas. 

Fernando Dolabela - consultor e educador na área de empreendedorismo, autor dos livros O Segrêdo de Luísa e Pedagogia Empreendedora e de vários programas educacionais no Brasil.

E-mail: dolabela@dolabela.com.br

Site: www.dolabela.com.br



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