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Quanto de você ou do seu colaborador está no trabalho?

A maneira com que conduzimos e gerenciamos nossas carreiras ainda não leva em consideração toda a complexidade do ser humano. Por Frederico Porto

Por Frederico Porto

Cada onda de desenvolvimento exige mais do ser humano do que a anterior. Por exemplo, enquanto na primeira onda, a da agricultura, somente precisávamos do corpo, na segunda, do corpo e um pouco da mente, e, na terceira, da mente como um todo. Costumo dizer que, atualmente, precisamos da mente e até do espírito. Por isso, os executivos da atualidade passam a refletir sobre valores e legado.

Mas, ao que parece, a maneira com que conduzimos as nossas carreiras e a maneira com que gerenciamos ainda não leva em consideração toda a complexidade do ser humano.

Henry Ford dizia não entender por que sempre que pedia um par de mãos o cérebro vinha junto. Grande parte do mundo corporativo, ainda hoje, contrata um cérebro, mas acaba permitindo somente o uso das mãos, ou seja, não permite que as pessoas utilizem todo o seu potencial. Por outro lado, o trabalhador de Ford era facilmente substituível, enquanto os da atualidade não são. Então não podemos nos dar a este luxo.

A pergunta que não quer calar é: apesar de falarmos que o maior patrimônio de uma empresa são os seus colaboradores, será que conseguimos extrair valor de toda a inteligência coletiva que temos?

Para tal, primeiramente temos de acreditar que os colaboradores conhecem o seu trabalho melhor do que ninguém e, por isso, devem ser ouvidos. Durante a Idade Média, dominava no mundo acadêmico a física aristotélica. Aristóteles dizia que um corpo caía quando lançado ao ar porque isso seria uma propriedade do corpo — lembre-se que a gravidade somente seria descoberta por Newton alguns séculos depois. Então, de acordo com a física da época, um objeto como uma pedra lançada ao ar subiria e, ao perder energia, cairia em um ângulo de 90 graus.

Acontece que os soldados do front de batalha, que arremessavam pedras de suas catapultas todos os dias, viam que as pedras tinham um movimento elíptico. Mas, ao falarem para os doutores das universidades, estes diziam que eles estavam enganados, pois, se Aristóteles havia dito...

Quem está no front da sua empresa tem uma noção bem crua da realidade, de como ela é, e, por isso, deve ser ouvido, independente do que os Aristóteles da vida digam.

Recentemente, li a biografia de Muhammad Yunus, o banqueiro dos pobres, e ele dizia que um dos grandes obstáculos para o microcrédito é a crença dos bancos de que os pobres não têm capacidade de cuidar de suas próprias vidas e, por isso, não poderiam receber crédito. Percebo o mesmo pensamento no mundo corporativo: em empresas grandes, divulgam-se as chamadas melhores práticas, mas não se quer saber qual é o problema para o qual o colaborador não tem a solução. É como se ele não fosse capaz de diagnosticar.

Recentemente, estava ministrando um workshop para uma empresa de grande porte e havia gerentes de diversas regiões do país. Um deles relatou a solução que havia dado há alguns meses para um determinado problema que afligia sua unidade. No intervalo, um gerente de outra unidade me relatou que ele havia resolvido aquele mesmo problema há 3 anos.

Por que esta solução não é divulgada? Provavelmente porque, diante de outros problemas mais graves, este perde a importância e a sua solução não traria um grande impacto para a empresa, pelo menos teoricamente. Mas imaginemos os milhares de problemas deste porte, cujas soluções estão na própria empresa e que, se resolvidos, gerariam um grande diferencial?

A idéia proposta seria fazermos um chat no qual os funcionários colocariam suas dúvidas e outros poderiam dar as respostas. Um mecanismo diferente do que espalhar a melhor prática — que, evidentemente, deveria ser mantido —, mas com esta nova idéia a empresa estaria sinalizando a crença de que os próprios colaboradores sabem qual é o problema e até mesmo a solução, desta maneira estimulando o desenvolvimento de todos.

Pensar e contribuir faz parte da natureza humana, desde que, claro, devidamente estimulada. Assim, geraríamos uma sinergia em que o todo seria maior que a soma das partes, em que 2+2 se torna 5, em que a capacidade realizadora do grupo torna-se muito maior do que a soma das capacidades individuais.

Frederico Porto - Médico psiquiatra e nutrólogo, professor convidado da Fundação Getúlio Vargas/SP e da Fundação Dom Cabral/BH, consultor associado da DBM Brasil. 

E-mail: frederico@integracaohumana.com.br

Site: www.fredericoporto.com.br



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