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Eu não acredito em dinheiro...

É estranho ouvir esta frase, pois ela faz parecer que o dinheiro deve ser alvo de fé. Por Flavio Henrique Moreira

Por Flavio Henrique Moreira

É estranho ouvir esta frase, pois ela faz parecer que o dinheiro deve ser alvo de fé. A sociedade capitalista em que vivemos atualmente tem sido alvo de críticas, mas sempre tendemos a pensar que certos aspectos do capitalismo são dogmas incontestáveis. No entanto afirmar não acreditar no dinheiro, pode ser menos estranho do que parece, se refletirmos um pouco sobre os valores reais e intangíveis que possuimos.

Um dos maiores questionamentos contra o capitalismo contemporânio é justamente relativo ao dogma da supervalorização dos aspectos monetários deste sistema. Segundo estes, todos os valores devem ser traduzidos na linguagem universal da moeda. Salário, aluguel, juros e dividendos são os temas que ocupam a mente dos que são levados a "crer" neste dogma, e isto é justamente a virtude e a miséria do dinheiro! A virtude incontestável do dinheiro é justamente permitir que os valores intrínsecos de bens e produtos sejam compreendidos numa linguagem comum. Sob esta ótica nota-se o valor positivo do dinheiro, mas esta ótica também obscurece todas as distorções que vemos no dia-a-dia.

A principal distorção é pensar que o dinheiro é um valor em si mesmo. Não é! Muitos se esqueceram disto. E mais, a massa dos que acreditam que o dinheiro é um propósito em si mesmo cresce a cada dia, guiado por pseudo-guros. Não quero dizer que as informações destes gurus não tenham seu valor, e, aliás, muitas idéias expostas neste texto são fruto da reflexão sobre o conteúdo de tais publicações. O que falta à esta enxurrada de "ensinamentos" financeiros é a exposição da essência; aquela que é muito mais entranhada do que a todo os demais conceitos.

Não acredito em dinheiro justamente porque tenho certeza que ele é apenas uma ferramenta para o processo. O dinheiro não é a materialização da riqueza. Aliás, contrarialmente a crença geral, a maioria das moedas do mundo são apenas um certifcado de dívida. Aqui cabe abrir um parenteses para explicar esta afirmação: toda moeda é a reprentação de um determinado valor que pode ser lastraeda por crédito ou débito. Nos primórdios do uso do dinheiro, ele era um certificado de crédito, pois representava justamente seu valor em ouro, prata ou qualquer metal raro de que fosse cunhada, mas desde o advento do dolar, as moedas passaram a ser lastreadas pela confiança dos credores, ou seja, a moeda (de metal ou papel) é um pouco mais que uma nota promissória do banco central do país. Os detalhes técnicos envolvidos no processo de emissão de dinheiro são complexos demais para serem tratados aqui, mas devemos dar atenção a duas consequências principais deste fato:

1) A moeda pode perder seu valor da noite para o dia; logo,

2) a riqueza não está em possuir dinheiro.

Então, o que tem valor real? O dinheiro certamente não é riqueza! Muitas coisas tem valor palpável ou tangíveil, e muitas delas são acumuláveis ou multiplicáveis e devem ser entendidas como riquezas. Das muitas que possuem valor real, a que considero fundamental é a VIDA. Não quero aqui levantar questões filosóficas... a intenção desta afirmação é muito mais simples e despretenciosa. Só a vida é capaz de criar e multiplicar-se. Alguns dos princípios da riqueza são justamente a criação e a multiplicação.

O significado desta afirmação pode ser facilmente compreendido com uma simples pergunta para reflexão: O que é mais importante para o crescimento de uma empresa? Seus produtos, ou seus processos produtivos, ou o dinheiro investido, ou seus funcionarios, ou seus clientes, ou seus parceiros? Refletindo um pouco sobre isto verifica-se que produtos morrem e são recriados, o dinheiro acaba e é levantado novamente, os processos extinguem-se ou são revisados, mas os clientes internos e externos e os parceiros são fundamentais para o negoócio. Um empreendimento não subsiste se não oferecer algo que interesse de alguma forma as pessoas. Tudo que não tem vida é apenas acessório e suporte.

Uma estorinha para exemplificar: no filme a Lista de Schindler, o personagem principal tinha o desejo de enriquecer as custas da guerra. Apesar de não ter dinheiro, ele construiu uma empresa a partir da amizade que cultivou com líderes militares e do partido nazista. No fim do filme, novamente ele mantém a empresa operando devido aos relacionamentos que havia construido com os judeus e, por fim, ele compreende que as amizades que havia construido eram mais valiosas que a fortuna que havia conseguido com a guerra. Devido a estas mesmas amizades ele conseguiu escapar dos aliados e salvar sua vida, deixando um legado histórico. Ele deixou este legado pelas vidas que salvou, e não pela fortuna que alcançou.

Outro exemplo pode ser observado na cultura crescente dentro das empresas em tentar avaliar o "capital intelectual" da empresa. O que é isto senão a soma de todo conhecimento acumulado e organizado pelas pessoas que passaram pela empresa. Nestes últimos dias, com a explosão das empresas de tecnologia, estes valores intangíveis tem chamado cada vez mais atenção sobre si.

Um antigo proverbio salomônico dizia: "onde está o teu tesouro aí estará teu coração". Talvez o mundo se tornasse mais agradável se cada um de nós deixasse de investir energia e emoções naquilo que não tem valor! Valorizar a vida é o que constrói a verdadeira riqueza...

Flavio Henrique Moreira - Cientista de Computação, Empresário e Consultor em Tecnologia.

E-mail: contato@ebizbrazil.com



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