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Livres ou servil

"Tempo é dinheiro". A lógica do trabalho perpassou a cultura e, até mesmo, a intimidade. Quase todas as atividades humanas passaram a ser foco de negócios ou tornaram-se oportunidades para alguém ganhar dinheiro, Para grande maioria das pessoas, o trabalho transformou-se em emprego na sociedade moderna. Por Clara Lucia Sacchetto Linhares

Por Clara Lucia Sacchetto Linhares

Outro dia, lendo um livro sobre mercado de trabalho, me deparei com duas palavras: “Livres e Servil” e só ai percebi que Servil é Livres, escrito ao contrário e me veio a seguinte indagação: Será que elas estão atreladas ao trabalho e ao desenvolvimento da carreira na atualidade? Com isto, faz-se oportuno fazer uma breve retrospectiva sobre o trabalho e a carreira na antiguidade.

Nessa época, o trabalho era entendido como a atividade dos que havia perdido a liberdade. O seu significado confundia-se com o de sofrimento. Distinguia-se trabalho de labor (elas têm etimologia diferente para designar o que hoje se considera a mesma atividade). Ambas conservam seu sentido, a despeito de serem usadas como sinônimos. O trabalho, além do labor e da ação, era um dos elementos da vida ativa. "O labor é a atividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano. O trabalho é a atividade correspondente ao artificialismo da existência humana. A ação corresponde à condição humana" disse o autor Albornoz em 1988.

Assim, diferencia-se, o labor do trabalho. O primeiro é um processo de transformação da natureza para a satisfação das necessidades vitais do homem. O segundo é um processo de transformação da natureza para responder àquilo que é um desejo do ser humano.

Dessa forma, nessa era, o trabalho tornou-se uma atividade compulsiva e incessante; onde a servidão tornou-se liberdade, e a liberdade, servidão. Para o homem dos tempos modernos, o tempo livre é inexiste ou é escasso. "Tempo é dinheiro". A lógica do trabalho perpassou a cultura e, até mesmo, a intimidade. Quase todas as atividades humanas passaram a ser foco de negócios ou tornaram-se oportunidades para alguém ganhar dinheiro, Para grande maioria das pessoas, o trabalho transformou-se em emprego na sociedade moderna.

Na Antigüidade, as pessoas livres eram chamadas de ocupadas. As atividades estavam vinculadas à participação do homem em tarefas que visavam à satisfação pessoal e eram desenvolvidas por escolha própria. A conotação moderna do termo emprego reflete a relação entre o indivíduo e a organização onde uma tarefa produtiva é realizada e pela qual se recebe rendimentos. Com isto, o emprego passou a ser um fenômeno da Modernidade, tornando-se tanto comum quanto importante; passou a ser, nada menos, do que o único caminho amplamente disponível para a segurança, para o sucesso e para a satisfação das necessidades de sobrevivência.

Na atualidade, porém, o emprego está desaparecendo do cenário econômico. No seu lugar, a nova ordem é buscar a sua “Trabalhabilidade”, ou seja, é o profissional quem deve se tornar capaz de ser absorvido pelo mercado de trabalho. É ele quem deve preparar-se para o mercado, buscando constantemente o aprimoramento e o desenvolvimento da competência técnica. Precisa desenvolver novas competências e habilidades para torna-se “desejável” pelo mercado. Assim, as empresas deixam de ser responsáveis pela formatação e desenho de cargos, bem como o desenvolvimento dos trabalhadores deixando a cargo deles esta tarefa. O trabalhador deve, então, aprender a aprender e entrar num processo de formação e educação continuada.

Sabemos que o capitalismo vem, na atualidade, promovendo profundas mudanças no mercado de trabalho. Essas mudanças se expressam, principalmente, pela globalização das finanças, pela crescente precarização das relações de trabalho, pela crise mundial, pelas taxas elevadas de desemprego e pela eliminação de postos de trabalho. Portanto, estamos vivendo uma fase de insegurança que engloba o mercado de trabalho, a construção da carreira e, por conseqüência a contratação de profissionais. Diante de tudo isto o que fazer? Como desenvolver alternativas? Primeiramente devemos compreender o ambiente externo: Entender o novo ambiente de trabalho, visualizar o futuro, observando novos ramos de atividade. Ter uma perspectiva sensata e realista do que está acontecendo e entender as inter-relações. Depois, compreender o ambiente interno (a si mesmo). Ter consciência de seus talentos, interesses e aptidões. Saber equacionar seus desejos com as suas necessidades e sua capacidade de realização. E por fim estabelecer uma consistente rede de relacionamentos. Contudo, deixo a reflexão: Será que diante de tudo o que estamos vivendo na atualidade profissional, podemos nos considerar livres ou servil?

Clara Lúcia Sacchetto Linhares é professora do Ibmec/MG, psicóloga e mestre em Administração.



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